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sábado, 22 de setembro de 2012

Sete filmes, sete amores

Todo ano, os cinemas são inundados por comédias românticas que, em sua grande parte, vendem paixões enlatadas com o rótulo de “sucesso”. Às vezes, não contêm nem humor nem verossimilhança, expondo na prateleira histórias totalmente previsíveis. Mas, obviamente, nem todo filme romântico é assim. Por isso, abaixo estão listados sete filmes recentes (não tão conhecidos assim) que mostram, a sua maneira, uma face do amor. Prepare o lenço. 

Melancólico

Toda Forma de Amor - 2010 


Oliver (Ewan McGregor) passa por três reviravoltas em sua vida. Após a morte de sua mãe, seu pai Hal (Christopher Plummer) assume a homossexualidade, aos 79 anos. Quatro anos depois, Hal também morre com câncer. Durante o luto, Oliver se apaixona por Anna (Mélanie Laurent), mas as lembranças do casamento malfadado dos pais atormentam seu próprio relacionamento. 

Do diretor e roteirista americano Mike Mills, Toda Forma de Amor 
conquista pela melancolia dominante. Presente no olhar de McGregor, na luz e cenários pálidos ou mesmo na relação com Anna, umtriste doçura encharca o mundo de Oliver, trazendo à tona uma dor que mais acalenta do que tortura quem assiste. 

As ótimas interpretações completam o trabalho de Milks, principalmente a de Christopher Plummer, que lhe rendeu neste ano o Globo de Ouro
 e o Oscar, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Confira o trailer! Obs. 1: Para quem se lembra do charmoso Dr. Luka Kovac de E.R., vai se surpreender com um Goran Višnjić bem acabadinho. Pois é, o tempo passa. 


Jovem
Fim de Semana - 2011


Certa noite, Russel (Tom Cullen) resolve ir a uma boate gay. Lá encontra Glen (Chris New), com quem termina a noite em uma transa casual. No breve intervalo do fim de semana, eles descobrem o enorme vácuo que distancia seus universos, ao mesmo tempo a atração os empurra a uma união cada vez mais forte.

O antagonismo entre os amantes é o principal catalisador da trama. Se Russel é um rapaz tímido e discreto quanto à sexualidade, Glen, por sua vez, é um artista impulsivo, sem receios ou papas na língua. Movidos pela divergência, abrem o peito, revelam angústias, exibem alegrias, tecem sonhos. 

Dirigido por Andrew Haigh, o filme transcende ao gênero queer e traz um relato sobre a paixão entre jovens de tumultuados centros urbanos. A lascívia das cenas de sexo é intercalada por diálogos íntimos, dando um ritmo comovente ao enredo. Aos poucos, é construído um romance sincero, que transforma a visão de mundo de cada personagem (talvez até a sua). Veja abaixo o trailer.



Futurístico
Timer: Contagem Regressiva para o Amor - 2009


Timer é um pequeno relógio que revoluciona os relacionamentos. Como? Prevendo o tempo restante para que você tope ocasionalmente com o amor de sua vida. Ele só funciona, porém, se seu par também possuir um. No caso de Oona (Emma Caulfield), o relógio nunca foi ativado, e ela vive a frustração de não saber quando (ou se) encontrará seu companheiro. Conhece, então, o jovem Brian (John Patrick Amedori), que achará a mulher ideal dali a quatro meses. Mesmo assim, Oona decide se arriscar numa relação aparentemente nascida para o fracasso. Será?

A originalidade do roteiro de Jac Schaeffer (que também assina a direção) prende o espectador até o fim. Ironicamente, 
Schaeffer cria as mais latentes dúvidas amorosas em um futuro cheio de certezas sobre o amor. Enquanto Oona sofre por não saber quando conhecerá o homem de sua vida, por exemplo, sua irmã Steph (Michelle Borth) amargura por saber que seu encontro só ocorrerá na velhice. 

Do filme, ecoa um questionamento interessante: há somente uma paixão verdadeira ou são vários os amores marcantes na vida? Pena que a desconstrução do conceito de "alma gêmea" seja tão ineficaz e que a história recorra a clichês. Mas é louvável uma ficção "científica" retratar tão bem os dilemas dos apaixonados, sempre com um toque de humor sutil. Ficou curioso? Olha aí:





Doloroso
Contra Corrente - 2009


Miguel (Cristian Mercado) vive com Mariela (Tatiana Astengo), sua esposa grávida, em uma vila de pescadores no litoral peruano, onde são fortes os preceitos religiosos. Como os demais homens, trabalha arduamente para o sustento de Mariela e do futuro filho. É nesse contexto que chega o artista Santiago (Manolo Cardona), por quem Miguel se apaixona. Uma tragédia, então, muda o destino do pescador e o põe diante de uma escolha: assumir o caso, mesmo depois do "fim" (o que seria o fim?), ou viver conforme as regras de olhares alheios.

O longa é a estreia do diretor peruano Javier Fuentes-León e ganhou visibilidade no Festival de Sundance 2010. A vereda trilhada por Miguel e Santiago é penosa e envolta em muita sensibilidade. No acabar das contas, Miguel sempre termina se esbarrando em uma questão. Vale a pena ou não nadar contra a corrente em um revolto mar de tradição e machismo, que inunda tanto a comunidade em que vive quanto o próprio peito?

Contra Corrente em muito se assemelha a outros do gênero, como Brokeback Mountain (2005) e Pecado da Carne (2009). Mas o sangue latino corre entre os tecidos da cena e metamorfoseia o amor contado, as consequências representadas e mesmo a mensagem transmitida. Da morte, Miguel colhe a felicidade que tanto ocultou. Mas só a dor da revelação trará a paz ao espírito de todos, inclusive de quem assiste. Espia aí. Obs. 2: Não é a cara da depressão, gente!




Saudosista
Eterno Amor - 2004


Mathilde (Audrey Tautou) e Manech (Gaspard Ulliel) se apaixonam na infância e, quando crescem, decidem se casar. Infelizmente, Manech é chamado pelo exército francês para lutar na Primeira Guerra Mundial, da qual não volta. Mesmo desacreditada pelas autoridades e amigos, Mathilde inicia uma incessante procura, guiada pela saudade e pela certeza irracional de que o amado ainda vive.

Pois é, as semelhanças com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002) vão além da presença de Tautou e de grande parte do elenco em comum. Ambos têm protagonistas excêntricas e são obras do fantasioso diretor 
Jean-Pierre Jeunet. Mas as coincidências param por aí. Até porque Eterno Amor é a versão cinematografada do livro Um Domingo para Sempre (1991), de Sébastien Japrisot, que conta de maneira realista o romance.

Jeunet é fidelíssimo à obra literária, enxertando no filme quase todas as falas intactas. Claro que alguns fatos são alterados, mas sem sair do conceito original. Tautou traduz na tela a forte personalidade de Mathilde, que supera a deficiência física e o arrefecimento da esperança na corrida cega por reencontrar Manech. Cabe ao diretor e a sua estética encher o filme com uma luz nostálgica, que recorda os momentos mais felizes de M e M, mesmo 
em cenas de desalento. Emocione-se com o trailer. Obs. 3: Gente, só achei o trailer sem legendas, mas vale a pena ver.


  
Não correspondido
Amores Imaginários - 2010


Apesar de diferentes, Francis (Xavier Dolan) e Marie (Monia Chokri) nutrem uma forte amizade. Forte até ser surgir Nicolas (Niels Schneider), que se torna a paixão dos dois. Um campo de batalha se arma, e os (ex-) amigos se digladiam por um sentimento que, em suas imaginações, é retribuído por Nicolas. 

Falou em romance francês, pensa-se logo em triângulo amoroso e ménage à trois, certo (s
afadchênhos)? Mas o filme de Xavier Dolan (também diretor) dá mais uma alfinetada nos amantes de plantão do que inspira erotismo. Quem nunca se apaixonou sem ser correspondido? Ou quem nunca competiu com outra pessoa por um amor? Junte as duas situações e diga adeus à finesse. É o caso de Francis e Marie, que descem do salto e encarnam toda a rivalidade e o egoísmo que circundam o amor. 

O trabalho tem seus defeitos. A direção de Dolan é hipster demais, cheia de efeitos e talvez imatura. Mas ele sabe combinar bem ícones do pop e da arte para criar uma fotografia 
exuberante, que por si só já vale o filme. As cores vibram com intensidade. A trilha sonora é reverberada pelas poderosas músicas, como a dramática Bang Bang e a exótica Pass This On, que embala a cena mais marcante do longa. Nela, o diretor condensa em poucos minutos a visão idealizada (e particular) que se tem de um amante quando os olhos estão baços de amor. Se identificou? Então, curti aí embaixo.



Moderno
Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual - 2011

Martín (Javer Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) são dois jovens corroídos pelo frenesi da metrópole. Apesar de morarem próximos, nunca chegam a se conhecer na vida real, devido ao isolamento depressivo em que estão imersos. Somente nos chats virtuais é que se encontram, sendo a internet o único escape (ilusório) para a socialização. Mal sabem que o amor está logo ali, ao atravessar uma rua. 

Originado de um curta de 2005, o filme de Gustavo Taretto arrebatou os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Diretor no Festival de Gramado de 2011. O longa é uma emocionante parábola sobre as relações amorosas modernas, cultivadas em meio a uma cidade estéril, individualista e cibernética. É em uma urbe assim que habitam Martín e Mariana (e todos nós), consumidos pela solidão de um mundo inteiramente "conectado". 

A arquitetura da cidade é a grande inspiração do filme. Do mais cinza concreto, Taretto consegue extrair poesia e beleza. Medianeras são justamente as laterais vazias de prédios, suportes para propagandas. Quando os personagens decidem rasgar esse dorso petrificado, janelas são abertas e permitem que a luz do Sol revigore a vida. A janela física substitui a virtual e se torna um meio de comunicação direto para o possível romance. Afinal, após inúmeros desencontros (frustrantes!), Martín e Mariana ficam mais uma vez na iminência de se conhecerem. No fim, resta uma prova de esperança: sim, um amor ainda consegue florescer à sombra de edifícios esmagadores. Veja o trailer. Obs 4.: Quem adora Onde está Wally?, vai amar o filme, repleto de referências pop, como Star Wars e Astro Boy.



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