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Steven Carell e Keira Knightley em cena do Procura-se um amigo para o fim do mundo
O impacto é imediato. Sentado no carro junto com a esposa, Dodge sente o torpor trazido por uma notícia no rádio. O asteróide Malthida colidirá com a Terra dali a 21 dias. Logo após, ele vê a mulher fugindo a pé, abandonando-o de vez para que o fim do mundo o consuma junto aos restos do casamento. É assim, com um humor misturando o risível e o doloroso, que se inicia Procura-se um amigo para o fim do mundo (2012), uma delicada comédia apocalíptica.
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O enredo é “simples”. Abandonado pela mulher, Dodge (Steven Carell) continua com uma rotina monótona, vendendo seguros. Um dia, encontra-se com a vizinha Penny (Keira Knightley) e descobre que ela guarda sua correspondência de anos atrás, recebida por engano. O encontro torna claro a ambos que ainda existem pendências a serem supridas antes do choque do meteoro.
No caso de Dodge, ele se depara com uma carta de amor recém-enviada por uma paixão do passado e decide reconquistá-la. Já Penny se martiriza por ter sempre privilegiado sua vida amorosa acima da família e agora tenta conseguir um avião para visitar os parentes. Os dois então se unem com a meta de realizar o sonho um do outro antes que a extinção os impeça. É aí que se inicia um divertido roadmovie, que obviamente proporcionará um maior conhecimento sobre si e colocará pessoas singulares nos seus caminhos.
Sem cenas ou efeitos visuais grandiloquentes, Scafaria se apoia no conjunto de personagens para ilustrar hilariamente as diversas reações de se lidar com a morte. Exemplo disso é a família de classe média, que celebra as últimas noites à base de drogas e sexo. Ou os rebeldes agitando as ruas, ao lado de pessoas que tentam manter a vida em ordem, como a empregada de Dodge e o policial que prende os protagonistas por excesso de velocidade. Ou ainda os militares agarrados à esperança de sobreviver dentro de casa, ao mesmo tempo em que, do lado de fora, há os que preferem o suicídio, a malhação, o surfe ou o corte da grama.
Contudo, o melhor trunfo de Scafaria está em retratar a delicadeza e a melancolia em meio a tanto caos. Expressas no olhar cabisbaixo e abobalhado de Dodge. Escritas num bilhete de desculpa pelo abandono de um cão, que passa a se chamar Sorry. Refletidas na água do mar que sela casamentos silenciosos na praia. Enroladas nos braços de Penny, toda vez que ela os entrelaça entorno de seus inseparáveis vinis.
É inclusive a partir dos LPs de Penny que se origina a trilha sonora, ornada de músicos dos anos 60/70/80 (The Beach Boys) e de bandas indies modernas (Scissor Sisters). Isso faz com que a sonoridade do filme seja tomada por uma nostalgia onipresente de algo se passou e que não terá um mundo para retornar. Uma cena que vale a pena destacar é a espera de Dodge pelo fim, embalada pela tristeza de The Sun Ain't Gonna Shine (anymore) (O Sol Não Brilhará Mais), em que The Walker Brothers cantam que “a solidão é um manto que se veste / uma profunda onda azul que sempre está lá”.
Porém, parte do brilho do filme desvanece ao se perceber que Dodge e Penny caminham para um improvável romance. Afinal de contas, aí se rompe o fio narrativo que até então vinha conduzindo tão bem, ou seja, a busca e o descobrimento de uma amizade para encarar a aniquilação da vida. Soma-se a isso a terrível contradição que Penny comete perto do final, trocando uma escolha corajosa e coerente por uma boba e típica de romances açucarados.
Mesmo com todas as suas qualidades, Procura-se um amigo para o fim do mundo é ainda recorre a lugares-comuns de comédias românticas pré-moldadas. Entretanto, isso não impede de se emocionar com a delicadeza do amor que é construído por Carell e Knightley. No momento em que o clarão apocalíptico entra em cena e o medo invade o ar, a voz macia de Dodge parece transpor a tela para tranquilizar o próprio espectador. Mas escapatória não existe. É quando as luzes da sala de cinema são acesas e indicam que realmente o fim chegou.
Porém, parte do brilho do filme desvanece ao se perceber que Dodge e Penny caminham para um improvável romance. Afinal de contas, aí se rompe o fio narrativo que até então vinha conduzindo tão bem, ou seja, a busca e o descobrimento de uma amizade para encarar a aniquilação da vida. Soma-se a isso a terrível contradição que Penny comete perto do final, trocando uma escolha corajosa e coerente por uma boba e típica de romances açucarados.
Mesmo com todas as suas qualidades, Procura-se um amigo para o fim do mundo é ainda recorre a lugares-comuns de comédias românticas pré-moldadas. Entretanto, isso não impede de se emocionar com a delicadeza do amor que é construído por Carell e Knightley. No momento em que o clarão apocalíptico entra em cena e o medo invade o ar, a voz macia de Dodge parece transpor a tela para tranquilizar o próprio espectador. Mas escapatória não existe. É quando as luzes da sala de cinema são acesas e indicam que realmente o fim chegou.
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