![]() |
Foto: Marcus Piggott e Mert Alas |
Clipes controversos capazes de preparar uma cama cheia de polêmicas. Essa é a arma (ou o trunfo sob os lençóis) que a diva Madonna tem se utilizado durante quase três décadas para se conservar no posto de rainha pop. Mesmo em tempos de concorrentes megalomaníacas, como Lady Gaga, Madonna indica que ainda não está pronta para abdicar do reinado. Com o vídeo de Girl Gone Wild, do décimo segundo álbum MDNA, a artista se inspira em elementos da própria carreira para se reinventar e para fabricar um novo produto.
A partir do lançamento, no dia 23 de março, MDNA galopou rapidamente rumo ao ápice da lista de sucessos da revista Billboard. Porém, já na semana seguinte, ele amargou a maior queda de vendas para um disco que esteve em primeiro lugar (86,7%). A faixa Girl Gone Wild teve o mesmo destino e não emplacou no rádio como se era esperado.
Apesar dos reveses, não se pode negar que o vídeo da música é uma surpreendente homenagem à própria carreira de Madonna. Lançado um pouco antes do cd, é dirigido pela dupla de fotógrafos Mert Alas e Marcus Piggott, que já haviam feito um ensaio com a diva para a revista Interview em 2010. O resultado da segunda parceria é um desfile de autorreferências e de metalinguagens.
Madonna em Like a Prayer (1989) e em Vogue (1990).
Relembrando Like a Prayer, em Girl Gone Wild (em tradução livre, “A garota que ficou selvagem”), Madonna insinua falar com Deus e se diz “arrependida de coração por tê-Lo ofendido”. Apesar de “detestar meus pecados” e “querer tanto ser boa”, ela admite que é “uma garota má, no final das contas”, principalmente quando fica “na pista de dança até a luz do amanhecer chegar”. O próprio refrão, quando se ouve que “garotas querem apenas se divertir”, já remete aos anos 80 de Girls Just Want to Have Fun, de Cyndi Lauper, época em que Madonna também surge no cenário pop.
O vídeo é filmado em um preto e branco de contrastes, cuja aura natural de imponência e de drama é desestabilizada por uma imagem poluída por estáticas. Esse e outros elementos nele presentes são na verdade heranças de clássicos passados de Madonna. Os diretores reúnem em um só trabalho a intensidade do glamoroso Vogue, a sensualidade dos latejantes Erotica e Justify My Love e o sombrio do coreografado Human Nature. Inclusive, Justify My Love e Human Nature mereceram até novas versões, usadas como plano de fundo em apresentações da MDNA Tour.


Justify My Love, Erotica e Human Nature são outros clássicos da diva
Temas como sexo e o universo gay são novamente resgatados às telas, agora de uma forma mais explícita. Os homens musculosos do grupo ucraniano Kazaky [os fortalezenses devem se lembrar bem né =p], de meia calça e saltos altíssimos, chocam ao dançarem tão sinuosamente quanto a artista e abalam a distinção entre os gêneros. Além disso, a ousadia dos fotógrafos de privilegiar a beleza estética do corpo masculino traz ao vídeo um olhar diferente.
O voluptuoso é ungido ainda com elementos que remetem à religião. Os antigos pingentes e brincos de cruzes voltam ao figurino de Madonna, enquanto ruídos na imagem e uma coroa de espinhos simulam episódios da crucificação de Cristo. A maçã, como o fruto proibido de Adão e Eva, aparece sendo devorada ao mesmo tempo por dois rapazes, talvez em crítica ao comportamento que rejeita homossexuais. Ou, simplesmente, em pura provocação, uma das qualidades mais exercidas pela cantora.
Porém, quem assiste ao clipe fica com uma sensação estranha de déjà vu. Isso porque o clima sombrio, as referências religiosas, o erotismo e o andrógeno se assemelham (e muito) a outra obra de sucesso, o controverso Alejandro, da rival/colega Lady Gaga. Até mesma a cena em que Madonna chora lágrimas negras parece uma reprodução, ou mesmo uma paródia, da capa alternativa do cd The Fame Monster, de Gaga.
Em Girl Gone Wild, é como se a mestra se autocopiasse a partir da pupila. É como se Madonna falasse de cantoras que imitam ela própria, que, por sua vez, também é cópia de celebridades, como Marilyn Monroe. A metametalinguagem, digamos assim, é o que há de mais interessante no vídeo. Ela é a prova de que a artista é dona de uma capacidade camaleônica de se reinventar. Aparentemente, Madonna não irá passar de vez a coroa de rainha do pop. Ao menos, não por espontânea vontade.
Veja o Girl Gone Wild:
E confira abaixo alguns dos clipes que serviram de inspiração:
Like a prayer - 1989
Vogue - 1990
Justify My Love - 1990
Erotica - 1992
Human Nature - 1995
Nenhum comentário:
Postar um comentário