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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A sinestesia da Metrópole

Silvero Pereira em cena - FOTO: Divulgação
O que é ser artista? É decorar textos e fingir ser outra pessoa? É fazer mímicas e esperar que a plateia acerte o que se quer dizer? É pintar como os Renascentistas ou como Picasso? É fotografar com lata de leite ou com uma Canon D5000? É dançar forró ou usar o corpo desconstruído para sintetizar um novo sentimento, uma nova expressão?
E depois de tentar responder (não respondendo) o que é um artista, é bom também levantarmos a seguinte questão: o que significa esta categoria no nosso contexto social? Na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua e até mesmo na nossa casa? Onde está a arte? Onde ela se esconde? E ela realmente está oculta no meio de nós?
Tentando mostrar a importância que o fazer artístico possui, a Inquieta Cia. de Teatro traz o espetáculo Metrópole, com direção de Gyl Giffony e texto de Rafael Barbosa. A trama é a história de dois irmão atores, Caetano e Charles. O primeiro é bastante talentoso, mas abriu mão de exercer a profissão que gosta por falta de espaço e valorização da categoria. O segundo, seguiu em frente e, mesmo com todas as adversidades enfrentadas, continua com o intuito de fazer arte e beneficiar terceiros com a cultura proveniente deste “setor” do meio cultural.
Com um jogo de cena entre os espectadores, se utilizando de espelhos, alternâncias entre luz e sombra e uma trilha sonora muito bem escolhida, o público apreende com mais força os sentimentos destes dois, que nos ajudam a dar início a uma série de reflexões sobre o papel da cultura para a estruturação da sociedade e em que parte de cada um está a arte.



Atores dando vida a atores
Thiago Andrade em ensaio - Divulgação

E como não falar da maravilhosa interpretação de um dos grandes nomes do teatro cearense. Silvero Pereira, como já era de se esperar, não decepciona ao dar vida a Caetano, um homem “zumbi”, o qual segue uma rotina trivial, excluindo de suas vivências o fazer artístico, tonando-se, assim, um morto-vivo.
E a parceria no palco com Thiago Andrade só engrandeceu a trama em si e a reflexão sobre o tema.
Thiago foi aluno de Silvero no Curso de Princípios Básicos em Teatro, promovido pelo Theatro José de Alencar. E as aulas foram muito bem apreendidas por essa nova figura do cenário artístico local. Tanto que sua personagem é de uma crescente incrível na peça, ficando sempre em uma sintonia perfeita com seu colega/tutor.
Então, agora é chegar cedo, garantir seu ingresso e mergulhar nessa sinestesia chamada Metrópole.

Mais informações:

Você pode conferir este espetáculo nos dias 22, 23 24/11 (quinta-feira a sábado), na Sala de Dança Hugo Bianchi (anexo do TJA - Rua Liberato Barroso, 525 – Praça José de Alencar).
Ingressos R$ 20,00 e 10,00 (meia)

sábado, 3 de novembro de 2012

Para se arrepiar: Dicas de histórias de terror





Achou que nosso especial de terror acabou? Desta vez, o jornalista George Pedrosa e o cinéfilo Eduardo Silva, fãs do gênero, listam quais foram as histórias que mais marcaram suas lembranças. Assuste-se.



Filmes

Monstros (1932) - Tod Browning

"Quero que façam algo mais apavorante do que Frankstein". Essa teria sido a frase dita por Irving Thalberg, executivo do estúdio MGM, ao exigir um novo filme que superasse Frankstein (1931), grande sucesso de terror da concorrente Universal. Ficou nas mãos do diretor de Drácula (1931), Tod Browning, a tarefa de criar Monstros, vendido, mais tarde, como " a mais assustadora história de terror sobre anormais e indesejáveis". 

Em um "circo de horrores", o anão Hans (Harry Earles) ganha uma fortuna e  é seduzido pela sinuosa figura da trapezista Cleópatra (Olga Baclanova). Ela o separa da noiva, mantém um caso com Hércules, o homem-músculo, e destrata os demais artistas. Porém, quando o véu da ilusão vem abaixo e tudo é descoberto, uma vingança sedenta se arma envolta daqueles que são verdadeiramente monstruosos. 

Em meio a irmãs siamesas, anões e pessoas com deformidades, Browning constroi uma visão sensível da realidade do circo e mostra que os piores monstros se escondem sob a máscara da "normalidade", como Cleópatra e o amante Hércules. Um dos aspectos que mais chocaram no filme foi o fato de o diretor, antigo artista mambembe, contratar atrações circenses de verdade para atuar, o que incomodou o estúdio e o público. Os resultados finais não foram os esperados. A película atraiu uma enxurrada de críticas e polêmicas, sofrendo várias modificações para poder ser exibida.

O Exorcista (1973) - William Friedkin

Em Georgetown, Washington, a atriz de cinema Chris MacNeilvai (Ellen Burstyn) se desespera ao ver que a filha Regan (Linda Blair), de 12 anos, está agindo de maneira horripilante. Ao se convencer de que se trata de uma possessão demoníaca, Chris recorre aos padres Lankester Merrin (Max von Sydow) e Damien Karras (Jason Miller) na tentativa de salvar a vida da filha.

O enredo é de autoria de William Peter Blatty, roteirista até então de comédias. Ele escreveu o livro O Exorcista baseado em um caso de possessão documentado em 1949. Com um grande orçamento e uma tecnologia de ponta, o filme se tornou um sucesso imediato. Foi o único do gênero de terror a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Também foi um dos últimos sucessos de Friedkin na direção.

Zé do Caixão (1963 a 2008) - José Mojica Marins

O personagem Zé do Caixão, criado e interpretado por José Mojica Marins, marcou definitivamente a história do cinema brasileiro. Surgiu pela primeira vez em 1963, no filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma, inspirado em um pesadelo de Mojica. 

Em À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963), Zé do Caixão é um cruel coveiro que estupra a namorada do melhor amigo por sua esposa não conseguir gerar um filho de seu sangue. A moça, então, deseja se suicidar para voltar do mundo dos mortos e arrastar a alma de Zé para o outro lado. 

A saga de Zé do Caixão continua em dois outros filmes. Em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), Zé permanece buscando a mulher ideal que irá gerar um filho perfeito. Ele rapta e tortura seis moças, para escolher a mais corajosa. Após matar uma delas que estava grávida, Zé é atormentado por um pesadelo em que é levado para um inferno e reencontra as vítimas. 

Já em A Encarnação do Demônio (2008), Zé reaparece, após ser liberado do cárcere em que estava enclausurado há 30 anos. Ele então retoma sua busca pela mãe de seu futuro filho, perambulando pela cidade São Paulo e deixando atrás de si atos de puro horror.

Livros

A coisa (1986) - Stephen King






No livro, que mais tarde deu origem ao filme It - Uma Obra Prima do Medo (1990), sete crianças da cidade de Derry, no Maine, sobrevivem ao palhaço Pennywise, que se transforma em uma terrível criatura cujo alimento preferido é o medo. Trinta anos depois e já adultos, toda a turma volta à cidade ao descobrir que o monstro também retornou e está assassinando crianças.








Perdidos Street Station (2000) - China Miéville 

Na cidade de New Crobuzon, em que estranhos humanoides convivem com os homens, o cientista Isaac inicia um perigoso trabalho. Para ajudar um Garuda, criatura alada que teve as asas cortadas, Isaac estuda e faz experimentos com diferentes seres voadores. Dentre eles, está uma lagarta que se alimenta apenas de dreamshit, uma droga alucinógena, e que causa esquisitos sonhos eróticos no cientista. À medida que cresce, o ser se transforma em um monstro capaz destruir a alma de todos os habitantes da cidade. A história é um típico exemplo do gênero New Weird, que mistura fantasia, terror e ficção científica. 



Quadrinhos
Black Hole (1995 a 2005) -  Charles Burns

Publicada em 12 volumes entre 1995 e 2005, a HQ narra uma praga que acomete inúmeros adolescentes de Seattle, nos anos 70. O vírus é transmitido por relações sexuais e se manifesta de forma diferenciada em cada caso. Enquanto alguns sofrem apenas manchas na pele, outros se transformam em aberrações, tendo de viverem isolados em acampamentos. Com o hipnotizante traço de Burns, Black Hole já arrebatou diversos prêmios.


O Monstro do Pântano - Alan Moore

O Monstro do Pântano, personagem criado por Len Wein e por Berni Wrightson em 1972, se torna um marco no mundo dos quadrinhos quando ganha novos contornos nas mãos de Alan Moore. Originalmente, após a explosão de seu laboratório, o corpo do cientista Alec Holland é coberto por toxinas e plantas e cai em um pântano, onde sofre terríveis mutações. A partir de então, ele transforma-se em um monstro composto pela matéria orgânica do pântano e busca uma cura para voltar à forma humana. 

Com a chegada de Alan Moore, a história tem uma grande reviravolta. Um dia, é feita uma autópsia no Monstro do Pântano e se descobre o que verdadeiramente aconteceu na explosão do laboratório. Alec Holland havia morrido naquele dia e sua alma tinha sido absorvida pelo pântano. Por isso, a cura não existia, já que nunca o Monstro do Pântano havia sido humano. O Monstro ganha, então, novos poderes, e sua saga passa a ter uma interpretação mais ampla do que a anterior. A obra marcou a história das HQs por trabalhar com o gênero terror e ser escrita para o público adulto.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nas entranhas do terror

Não adianta negar: seja pelo medo, seja pelo prazer, as histórias macabras exercem um domínio oculto sobre a mente humana. Quando amplificado em livros, filmes, quadrinhos, o terror consegue embutir em seus espectadores/leitores um misto de repulsa e curiosidade, capaz até de marcar permanentemente a memórias.

A cada dia e em cada esquina, é comum ver blockbusters e best-sellers que espirram sangue, violência e dor apenas para seduzir pelo choque. Mas, quando utilizado de forma inteligente, o horror pode ser um portal da alma humana, que transporta para reflexões profundas como a angústia e as demais mazelas da vida em sociedade.

Confira nossa reportagem especial sobre o tema e descubra alguns dos motivos pelos quais essas histórias conseguem prender tanto a atenção.


Algumas obras de Stephen – Parte 1


Da mesma forma que é impossível pensar em vida sem água, é quase infundada a hipótese de pensar em livros de terror sem lembrar-se de Stephen King. Um ícone da literatura do século XX, Stephen se tornou um Best-seller, vendendo mais de 350 milhões de cópias de livros, que unem, em sua maioria, terror e fantasia, ficção-científica. E muitos desses livros inspiraram competentes diretores, que tornaram visuais as tramas, lotando as salas de cinema de todo o mundo.

O primeiro romance, publicado em 1974, foi Carie. Ele conta a história de uma moça bastante pacata e religiosa que, de repente, nota que possui poderes paranormais de telecinese. Como era bastante diferente das adolescentes da sua idade, Carie sofria muito com o bullying. Agora imagine você no lugar dela: todos te detestam, te fazem mal e de repente você percebe que pode mover objetos com o poder da mente. Nesta hora, o Ed diz para mim: “Tamara, por favor, não conta o final do livro”.

Então eu vou contar algumas curiosidades que achei na internet. Primeiro, o livro quase que vai parar em um lixão. Stephen detestou o resultado do seu árduo processo de escrita. Porém, para salvar a pátria, eis que a esposa dele resgata os manuscritos da lixeira e insiste para que King tente publicar. 

E outra: além de adaptações para o cinema e para a televisão, o texto original  foi mote para um musica da Broadway em 1988.

Dois anos após o sucesso do livro, especificamente em 1976, o romance teve adaptação para o cinema, contanto com a atuação do galã do momento, John Travolta, e direção de Brian De Palma.

O filme foi bem bacana num todo. Deu para sentir bem a atmosfera do colégio americano, deu para sentir a pureza da jovem que era extremamente religiosa devido à criação católica fervorosa que sua mãe lhe deu. Mas a atuação de Sissy Spacek não ficou a altura da personagem. Achei até patética a cena que deveria ser a mais impactante.

Então eis que surge um remake. Carie, a estranha, dirigido por Kimberly Peirce (a mesma de Meninos não choram), vai estrear, ao que tudo indica, em março de 2013, tendo como protagonista Chloe Morez. 

A jovem atriz que já tem experiência em filmes de terror, uma vez que protagonizou Deixe-me Entrar, uma versão americana (e ruim) da produção sueca Låt den rätte komma in (Deixa Ela Entrar). Espero que ela se saia bem e que não decepcione.

O cinema como um acréscimo à literatura


Jack Nicholson no papel de Torrance
Outro livro maravilhoso que se tornou um dos filmes mais marcantes da minha vida foi O iluminado. Três anos após a publicação impressa, Stanley Kubrick usou todo o seu brilhantismo como diretor para dar vida ao mais angustiante e bem feito filme de terror dos anos 80. 

Sem deixar tudo bem claro ao espectador, jogando com as hipóteses que surgiam ao longo da trama, Stanley apenas fez uma adaptação que apesar de não ser fiel ao texto original, conquistou um público imenso, sendo considerado o segundo melhor longa de sua carreira, e agradou o próprio Stephen King.

A história se passa em um hotel, o qual no inverno não recebe nenhum hóspede. É nesse momento que Jack Torrance é convidado para, juntamente com sua mulher e filho, tomar conta do espaço. Daí em diante, uma série de psicoses que não deixam certo se os caseiros do local estão ficando loucos ou se o local é amaldiçoado.

Jack Nicholson fez uma brilhante atuação e, até hoje, seu sorriso me causa certo desconforto. A iluminação e a fotografia mantém o espectador preso junto com aquela família, sem saber como fugir daquele ambiente que aparentemente é tranquilo, porém nos afoga num mar de desespero.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No cinema com o Horror – Volume I

Pode até não ser algo natural da nossa Terra da Luz, mas é incontestável que, no mês de outubro, paira no ar uma estranha névoa de Halloween. Acreditando ou não no sobrenatural, somos constantemente assombrados pelo calendário, que insiste em nos apontar a data final. No dia 31, quer seja no imaginário, quer seja na vida real, as bruxas estarão soltas a nos perseguir.

Para "comemorar" essa aura macabra de outubro, preparamos algumas dicas de filmes sobre um dos temas que mais desperta a curiosidade e o interesse do ser humano: o horror. Mas que tal deixarmos de lado as mutilações à la Jogos Mortais e conhecermos um lado mais psicológico do terror? Abaixo, um dos primeiros exemplares de filmes que arrepiam a espinha até hoje, sem fazer uso exagerado da violência. Aproveite.

Psicose - 1960

Obra prima do diretor Alfred Hitchcock. Expoente máximo do gênero suspense/terror. E ainda: um dos filmes mais icônicos do cinema. Prepare-se, esses são alguns dos comentários mais modestos que ouvirá a respeito do aclamado Psicose. Sem qualquer contra-argumento, realmente é um grande clássico, com toda sua perenidade e subversão. Mas, à margem de qualquer aura de endeusamento, uma coisa é certa: a cada minuto que passa desde a abertura, é possível sentir dentro de si uma bolha de agonia crescente, que explode em puro medo quando a célebre cena do chuveiro surge na tela.

À primeira vista, Psicose pode até desestimular parte dos espectadores que o veem com os olhos da contemporaneidade. Afinal, é uma película em p&b que foge do modelo dos filmões atuais, em que as cores púrpuras, a ação frenética e os sustos programados são pré-requisitos dominantes. Indo na direção contrária dessa pasteurização, Psicose é uma excruciante surpresa para os amantes do gênero. Mesmo passados 52 anos, não há como não se assustar com a desventura de Marion no emblemático motel de Norman Bates.

Na tela

O diretor Alfred Hicthcock, "Mestre do Terror"
Já de início, é prenunciado um clima impregnado de crime e temor. Um dia, a secretária Marion Crane (Janet Leigh) aproveita o fim de semana já próximo e rouba 40 mil dólares da imobiliária onde trabalha para financiar seu casamento. Durante a fuga, decide descansar na pousada de Norman Bates (Anthony Perkins), homem que vive no lugar apenas na companhia materna. Sentindo-se protegida, Marion nem desconfia que a morte ainda lhe visitará  no banho daquela noite. A partir daí, desenrola-se um mistério do tipo whodunit (“quem matou?”), caminhando para um final inimaginável. 

Deixando para trás o lado tiete, o longa é uma deliciosa experiência cinematográfica, repleto de ousadias. Se o público é previamente acostumado a acompanhar a saga da mocinha e torcer pela sua felicidade, fica embasbacado 
aos 40 minutos com sua brutal morte por uma faca ensandecida. Além disso, é obrigado a embarcar na completa transformação de foco da história, quando a dupla formada pelos Bates ganha papel central. Aos poucos, o espectador mergulha na conflituosa relação familiar de Norman com sua controladora mãe, enquanto a tensão no ar se solidifica cada vez mais

Anthony Perkins no papel de Norman Bates
Para além da magistral direção de Hitchcock, as atuações são um dos fortes que sustentam a grandiosidade do filme. Janet Leigh dá uma incrível vulnerabilidade e ingenuidade a uma secretária de caráter duvidoso. Na morte, atinge o ápice da emoção, transfigurando seu rosto molhado em uma carranca de fatal horror. 

A cargo de Perkins fica a missão de dar vida ao complexo personagem de Norman. Ao mesmo tempo em que transparece o ser frágil dominado pela parte materna, o ator incute no personagem algo de terrivelmente misterioso que instiga a plateia até o fim. 

Mas, inegavelmente, um dos maiores trunfos do sucesso horripilante da obra está na música do compositor Bernard Herrmann. Só com Hitchcock, o americano trabalhou em nove filmes, incluindo Um corpo que cai (1958) e Os pássaros (1963). Cidadão Kane (1941) e Taxi Driver (1976) foram algumas das outras obras para as quais compôs. Mesmo assim, foi com a trilha sonora de Psciose que conseguiu marcar à ferro incandescente o imaginário popular. Com violinos rasgantes, cruéis e agonizantes, Herrmann traduziu o desespero da morte e se fez inesquecível na mente daqueles que nem mesmo ouviram falar de seu trabalho. Confira no trailer abaixo:




Nos bastidores
Hicthcock e Perkins nos sets de gravação
Quem vê Psicose nos tempos de hoje mal sabe que se deriva de um romance de Robert Bloch, engrandecido pela adaptação do roteirista Josef Stefano. Conta-se que na época Hitchcock ficou fascinado pelo enredo. Assim que comprou a obra pela bagatela de 9.000 dólares, retirou de circulação todos os exemplares do livro, a fim de manter o segredo sobre o desfecho da história. 

Com um orçamento baixíssimo de 800.000 dólares e usando o elenco do programa que o diretor mantinha na TV, o filme arrecadou 40 milhões de dólares nas bilheterias. Mais econômico ainda, foi gravado em preto e branco em uma época em que o cinema colorido já existia há décadas. O motivo? Porque o Hitchcock achou que a película poderia ficar muito sangrenta se rodada a cores. 


No chuveiro 

Porém, se, por um lado, Hitch fugiu do choque pela violência, por outro, ele não economizou na ousadia em diversos cenas, principalmente na tomada do chuveiro. Pela primeira vez, foi exibido nas telonas um vaso sanitário, algo impensável em tempos passados de rígidos códigos morais. Além disso, se já no cartaz e ao longo do filme Janet Leigh aparecia apenas de roupas íntimas, na morte de Marion foi usada uma dublê nua para dar maior realismo ao fato. Realismo que Hitchcock conseguiu construir em apenas 30 segundos. 

Bastaram 36 tomadas alternadas freneticamente para dar a impressão de que se desenrolava aos nossos olhos um verdadeiro banho em sangue, sem que em nenhum momento fosse necessário a lâmina tocar de fato a pele da atriz. Sangue este que não passava de calda de chocolate, enquanto que o som das “facadas” se originava de punhaladas desferidas em melões. Tudo aparentemente verossímil,  graças ao incrível poder ilusório das mãos do Mestre do Terror.

Nas sequências


Como todo sucesso, Psicose foi explorado repetidamente em outras franquias: Psicose 2 (1983), Psicose 3 (1986) e Psicose 4 - A Revelação (1990), nenhum ao comando de Alfred Hitchcock (e sem o mesmo sucesso). Além disso, um polêmico remake foi feito em 1998 por Gus Van Sant, sem obter a força do primeiro.



Para novembro deste ano, está previsto a estreia de Hitchcock,filme baseado no livro Alfred Hitchcock and the Making of Psycho, de Stephen Rebello, em que é mostrado os bastidores da gravação de Psicose. Só pelo trailer, qualquer um já se apaixona pela atuação de Scarlett Johansson e Anthony Hopkins como Janet Leigh e Alfred Hitchcock. Caia também de amores assistindo ao trailer abaixo:




domingo, 21 de outubro de 2012

Jonh Carpenter: um dos mestres do horror



Eu sou fã de filmes de terror desde a minha adolescência. Num primeiro momento, esse estilo me atraiu pela morbidez e pelo momento gótico que vivia. Depois, com as películas mais psicológicas, eu passei a gostar das epifanias criadas pelos autores, nas quais o “mocinho” era o próprio vilão da trama.

Foram inúmeras as fases e os estilos de terror que me apeteciam, que vão desde o susto barato, passando pelos grotesco, o trash, o vampirismo e muitos outros estilos. E em uma delas esteve presente o diretor John Carpenter.

John é um estadunidense que se formou em Cinema na Universidade de Western Kentucky e depois na Escola de Cinema USC, ambas em Los Angeles. A primeira premiação surgiu em 1970 com um curta chamado The Resurrection of Broncho Billy, o qual não possuía a temática fúnebre.

Depois disso, Carpenter conseguiu se consagrar com vários filmes do gênero terror, tendo como marco o longa Halloween – A Noite do Terror (Halloween) de 1978. Nesse thriller, um psicopata que foge da prisão e na noite do dia das bruxas, persegue e mata as pessoas que residiam nas proximidades da antiga casa dele.

Outro filme bastante interessante desse diretor é O Enigma do Outro Mundo (The Thing) de 1982. Quem gosta bastante dessa trama é George Pedrosa, nosso colega do Curso de Comunicação. Fomos até a Gibiteca da Biblioteca Pública Dolor Barreira para um bate papo, no qual ele apontou este como um dos seus filmes favoritos.



Além do  Kurt Russell ser “o cara” no longa, o filme é bom porque o vilão é um alienígena que possui o poder da metamorfose, se transformando em pessoas e confundindo as mentes das personagens. Assim, além da ficção científica, há um psicologismo pungente na obra, tornando-se uma paranoia. Na época que foi lançando, foi considerado um fracasso por não ter alcançado a bilheteria de Halloween, porém atualmente é considerado Cult e muito bem quisto. 


A década de 1980

Em 1981, Carpenter lançou um dos melhores longas de sua carreira. A Bruma Assassina (The Fog) é um filme bastante culto que possui trilha sonora criada pelo próprio diretor. Um navio afunda durante um forte nevoeiro e, cem anos depois, os espíritos dos tripulantes voltam para se vingar das pessoas que residiam nas proximidades da cidade. Eu tenho verdadeiro fascínio por terror com fantasmas/espíritos, já que dificilmente há como escapar deles.


John Carpenter parece que também gosta desse tipo de vilão, não é a toa que resolveu dar vida a Christine - O Carro Assassino (Christine) do escritor Stephen King. Em 1983 o cineasta lançou o longa que contava a de um carro possuído por uma alma feminina a qual mantinha seus donos aprisionados e capazes de cometer loucuras por ela.






Outras produções

E se você pensa que Carpenter se isentaria de fazer um filme com vampiros, você pode ter certeza do equívoco. Em 1998, eis que surge Vampiros de John Carpenter (Vampires), um western-terror que se passa no México. Um caça vampiro está na cola de um grande “chupador de sangue”, o qual resistiu às intempéries desde o século XIV.

O mais recente filme foi Aterrorizada (The Ward) de 2011. Um filme chocante, com muitos Zombies e fantasmas, os quais os espectadores não sabem se são reais ou não. Ou seja, os anos passam, mas Carpenter não perde sua marca: um misto de fantasia e terror psicológico.

A eternidade de Drácula



É impossível falar de filmes de terror sem mencionar vampiros. Eles são envolventes, apaixonantes, tenebrosos, monstros e humanos. Apesar de não possuir alma, todos os que são apresentados na literatura ou nas telas do cinema têm sentimentos, nem que seja luxúria, dotados de um fator humano que nem a maldição mitológica vampiresca foi capaz de tirar.

E da mesma forma que é impossível falar de terror sem mencionar os “chupadores de sangue”, é um verdadeiro atentado não mencionar Drácula. Não se sabe ao certo como começou esse mito de que existiam homens eternos, cuja fonte de energia era o sangue. Em várias partes do mundo, já eram descritos seres semelhantes, entretanto os mais “famosos” eram os da Europa ocidental no início do século XIX.

Foi então que Bram Stoker, em 1897, publicou uma obra bastante realista. Utilizando cartas, documentos, registros de bordo, o autor acabou construindo uma espécie de documentário sobre o conde excêntrico que vivia em um castelo na Transilvânia.

Drácula tinha virado vampiro após renegar a Deus e a igreja quando viu sua amada Elisabeta morta. A moça cometeu suicídio quando ouviu boatos de que ele havia morrido na guerra; portanto, segundo a religião católica, ela estaria condenada ao inferno. Inconformado com isto, Drácula amaldiçoou Deus e, por consequência, foi condenado a viver eternamente como um parasita, tendo que se alimentar de sangue humano para sobreviver.

Na trama de Bram Stoker, o vampiro, séculos depois, acaba sentindo a presença de Mirna, reencarnação da sua amada e, numa tentativa de encontrá-la, usa como desculpa a compra terras na Inglaterra. Dessa forma, conseguiu se aproximar do namorado da moça (Jonathan Harker), o qual era o que hoje chamamos de corretor de imóveis, para conseguir informações sobre Mirna.

Daí em diante, são sequencias de mortes, muito sangue, horror, até o monstro-humano se aproximar de Mirna e manipulá-la de tal forma que o que era amor, torna-se uma obcessão. É nesse momento que eu fico morrendo de vontade de contar o final, mas espero que leiam o livro para saber como termina.

Pioneiro nas telonas

Mas o vampiro não se contentou em ficar no papel e foi para as telas do cinema sob o olhar de vários competentes (e incompetentes) diretores. Aqui vocês só encontraram boas dicas de filmes com Drácula. Boas e clássicas.

O primeiro é o filme mudo do alemão F. W. Murnau, Nosfetatu (Nosferatu, EineSymphonie des Grauens) de 1922. Trata-se da primeira adaptação do livro de Bram Stoker, entretanto não possui os nomes dos personagens originais por problemas com direitos autorais. Tanto que até o nome do personagem principal foi alterado. A figura do monstro Nosferatu foi muito bem feita e é bastante amedrontadora.

Além de ser a primeira tentativa de reprodução visual do livro, a película é considerada a primeira do gênero terror no cinema. O enredo é a história do conde  Orlock (Max Schreck) que se apaixona por Ellen (Greta Schröder) e causa o medo na cidade em que sua amada vive. Para quem nunca viu um filme mudo, pode parecer um pouco tedioso, mas garanto que o intuito da película se mantém.

O grotesco do estúdio Hammer

O próximo que tenta retratar o ser das trevas é O Vampiro da Noite (Dracula) de 1958. Dirigido por Terence Fisher e produzido pelo estúdio inglês Hammer Film Productions (conhecido pelos filmes com monstros clássicos - Drácula, Frankenstein e múmias), este foi o primeiro filme de uma série que ficou bastante famosa por utilizar recursos bastante grotescos para causar medo nos espectadores.

Mas não é só com efeitos que se faz um bom longa. A adaptação do roteirista Jimmy Sangster, que fugiu um pouco do texto original, não deixou a desejar. Nesse filme alguns personagens mudam de nome e de função, mas a essência do Drácula não se perde. E o ator Christopher Lee conseguiu se eternizar pela maravilhosa atuação como príncipe das trevas.

Nessa história, Drácula sai da Transilvânia, para ir a Londres em busca de novas vítimas. Como mantinha hábitos noturnos, chamou à atenção do Dr. Van Helsing (interpretado por Peter Cushing), que se tornou o grande inimigo do vampiro.

A adaptação mais fiel

Drácula de Bram Stoker (Bram Stokers Dracula) de 1992, dirigido pelo renomado cineasta Francis Ford Coppola (que também dirigiu clássicos como a franquia O poderoso Chefão e Apocalipse Now), foi o que mais se aproximou do livro, tendo até o jogo epistolar em algumas narrações ao longo da película.

Com uma fotografia rebuscada, cenas surreais, jogos entre as passagens de quadros e efeitos especiais, que as outras adaptações não possuíam devido à falta de tecnologia, o filme conseguiu conquistar um enorme público. Foi o ganhador do Oscar de 1993 nas categorias Melhores Efeitos Sonoros, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem.

A dupla Winona Ryder (que interpretou Mina Murray/Elisabeta) e Gary Oldman (o próprio conde Drácula) deram um show de interpretação como o casal mais amaldiçoado e mais bonito dos filmes de terror.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

5 fotografias de um mesmo olhar

Esse foi o momento em que decidi ser egocêntrica: farei uma postagem só com minhas fotografias. Nada mais justo quando se está sem criatividade para fazer a resenha de um filme que ainda pretende ver.

Então, vou colocar cada foto aqui, com uma legenda falando sobre a concepção da artista aqui. [#seacha]





{ Essa foto foi feita no caminho para Guaramiranga. Eu ainda fazia o primeiro semestre da faculdade e me deparei com esse simpático senhor na saída do restaurante onde almocei. Não resisti e pedi para tirar um retrato. E ele foi logo se arrumando e fazendo a pose. Ainda pretendo fazer um projeto todo voltado para retratos de pessoas do sertão.







{ Essa outra fotografia foi feita no Cemitério São João Batista, o mais antigo de Fortaleza, onde estão enterrados pessoas que marcaram a história do nosso estado. Lá não podemos fazer fotos das lápides, para não constranger as famílias dos falecidos e nem gerar um processo contra a gente (vale ressaltar). Então, utilizei o macro da minha finada Nikon P500 e está aí o resultado. Um contraste que eu gosto bastante, modéstia parte.













{ Agora uma foto de modelo. Em um ensaio mais oriental, Elaina Forte deu este olhar impactante para minhas lentes. A maquiagem acentuou a densidade dos olhos e o lenço claro deu uma quebra, uma suavizada no contexto. Impossível não passar um tempo encarando. Adorei fotografá-la.







{ Em Jericoacoara você vê inúmeros turistas, "gringos" de todas as partes do mundo. Tomando meu solzinho, porque ninguém é de ferro, vi esta cena e dei graças a Deus por estar com a máquina. Nada mais bonito que o amor incondicional de uma mãe para sua filha. E para ficar mais maravilhoso, só em uma praia surreal como Jeri.








{ Mais uma de praia. Dessa vez, na Praia de Iracema, cartão postal da nossa Fortaleza. Muitos sufistas vão para lá durante o fim da tarde em suas enormes pranchas. Este estava por lá, curtindo a vibe, quando apertei o obturador, momentos antes da remada, durante este pôr-do-sol maravilhoso.







[Espero que tenham gostado dessa pequena mostra de imagens, de diferentes motivos, em lugares comuns, mas com um fator humano que deixa tudo mais relevante.]

sábado, 22 de setembro de 2012

A negra voz


Loira, rosto angelical, britânica. Se dependesse da aparência para ocupar a realeza, de certo estaria em um trono cravejado de esmeraldas e outras pedras reluzentes.  Mas quando se deixa fechar os olhos para escutar a voz da moça, é difícil não se lembrar da cantora Aretha Franklin.

E foi com a voz grave e impecável, o ritmo negro e muito carisma que a jovem Joss Stone conseguiu o destaque no soul e R&B mundial com apenas 16 anos. 

O seu primeiro álbum (The Soul Sessions) tornou-se o top cinco da parada musical da Inglaterra em 2003. São 10 músicas dos anos 60 e 70 de cantores renomados, incluindo a música "All the King's Horses" de Aretha.  "Super Duper Love" foi o seu segundo single, mas merece mais destaque que o primeiro, já que garantiu à cantora o posto entre os vinte músicos mais ouvidos na terra da Rainha. 

Em 2004, com o álbum Mind, Body & Soul, a cantora britânica mostrou que também é uma excelente compositora, sendo o cd totalmente autoral. Canções românticas, como "Spoiled" e "Right to Be Wron", e batidas negras (com muita bateria e contrabaixo) em "You Had Me" e "Don’t Know How", fizeram deste o álbum mais completo. 

O terceiro álbum da britânica foi Introducing Joss Stone. Mais um sucesso: o disco obteve o 12° lugar em vendas só na primeira semana, sendo vendidas 27.000 cópias. De lá pra cá, foram mais de onze milhões de álbuns vendidos, turnês em todo mundo, cinco prêmios Grammy e a consolidação do talento da “Diva do Soul”.


Dessa vez, com 25 anos e muita experiência musical na bagagem, Joss lança uma continuação da primeira “sessão de soul”: intitulado The Soul Sessions vol.2, o novo álbum da diva está com onze deliciosas melodias. A música de trabalho chama-se "(For God's Sake) Give More Power To The People". Podemos defini-la com uma palavra: contagiante. O ouvinte fica extasiado e com uma enorme vontade de dançar, com uma letra que faz uma dura crítica ao poder político e econômico, que desvaloriza o ser, recusa os valores humanos em prol do capital.

E para espalhar essa mensagem, Joss está fazendo uma turnê mundial. O Brasil está entre os países contemplados. Serão cinco shows em novembro, entre os dias 11 a 20, nas seguintes cidades: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto Alegre. Mais uma vez o nordestino terá de migrar para as regiões sudeste e sul para escutar boa música.

São várias as músicas que eu amo, mas destaquei apenas algumas. Confira e se apaixone:

Super Duper Love (álbum The Soul Sessions - 2003)




Snakes and Ladders (álbum Mind, Body &Soul - 2004)






Baby Baby Baby (álbum Introducing Joss Stone - 2007)






Karma (álbum LP1 - 2011)







While You're Out Looking For Sugar  (álbum The Soul Sessions vol.2 - 2012)


(For God's Sake) Give More Power To The People  (álbum The Soul Sessions vol.2 - 2012)




Sete filmes, sete amores

Todo ano, os cinemas são inundados por comédias românticas que, em sua grande parte, vendem paixões enlatadas com o rótulo de “sucesso”. Às vezes, não contêm nem humor nem verossimilhança, expondo na prateleira histórias totalmente previsíveis. Mas, obviamente, nem todo filme romântico é assim. Por isso, abaixo estão listados sete filmes recentes (não tão conhecidos assim) que mostram, a sua maneira, uma face do amor. Prepare o lenço. 

Melancólico

Toda Forma de Amor - 2010 


Oliver (Ewan McGregor) passa por três reviravoltas em sua vida. Após a morte de sua mãe, seu pai Hal (Christopher Plummer) assume a homossexualidade, aos 79 anos. Quatro anos depois, Hal também morre com câncer. Durante o luto, Oliver se apaixona por Anna (Mélanie Laurent), mas as lembranças do casamento malfadado dos pais atormentam seu próprio relacionamento. 

Do diretor e roteirista americano Mike Mills, Toda Forma de Amor 
conquista pela melancolia dominante. Presente no olhar de McGregor, na luz e cenários pálidos ou mesmo na relação com Anna, umtriste doçura encharca o mundo de Oliver, trazendo à tona uma dor que mais acalenta do que tortura quem assiste. 

As ótimas interpretações completam o trabalho de Milks, principalmente a de Christopher Plummer, que lhe rendeu neste ano o Globo de Ouro
 e o Oscar, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Confira o trailer! Obs. 1: Para quem se lembra do charmoso Dr. Luka Kovac de E.R., vai se surpreender com um Goran Višnjić bem acabadinho. Pois é, o tempo passa. 


Jovem
Fim de Semana - 2011


Certa noite, Russel (Tom Cullen) resolve ir a uma boate gay. Lá encontra Glen (Chris New), com quem termina a noite em uma transa casual. No breve intervalo do fim de semana, eles descobrem o enorme vácuo que distancia seus universos, ao mesmo tempo a atração os empurra a uma união cada vez mais forte.

O antagonismo entre os amantes é o principal catalisador da trama. Se Russel é um rapaz tímido e discreto quanto à sexualidade, Glen, por sua vez, é um artista impulsivo, sem receios ou papas na língua. Movidos pela divergência, abrem o peito, revelam angústias, exibem alegrias, tecem sonhos. 

Dirigido por Andrew Haigh, o filme transcende ao gênero queer e traz um relato sobre a paixão entre jovens de tumultuados centros urbanos. A lascívia das cenas de sexo é intercalada por diálogos íntimos, dando um ritmo comovente ao enredo. Aos poucos, é construído um romance sincero, que transforma a visão de mundo de cada personagem (talvez até a sua). Veja abaixo o trailer.



Futurístico
Timer: Contagem Regressiva para o Amor - 2009


Timer é um pequeno relógio que revoluciona os relacionamentos. Como? Prevendo o tempo restante para que você tope ocasionalmente com o amor de sua vida. Ele só funciona, porém, se seu par também possuir um. No caso de Oona (Emma Caulfield), o relógio nunca foi ativado, e ela vive a frustração de não saber quando (ou se) encontrará seu companheiro. Conhece, então, o jovem Brian (John Patrick Amedori), que achará a mulher ideal dali a quatro meses. Mesmo assim, Oona decide se arriscar numa relação aparentemente nascida para o fracasso. Será?

A originalidade do roteiro de Jac Schaeffer (que também assina a direção) prende o espectador até o fim. Ironicamente, 
Schaeffer cria as mais latentes dúvidas amorosas em um futuro cheio de certezas sobre o amor. Enquanto Oona sofre por não saber quando conhecerá o homem de sua vida, por exemplo, sua irmã Steph (Michelle Borth) amargura por saber que seu encontro só ocorrerá na velhice. 

Do filme, ecoa um questionamento interessante: há somente uma paixão verdadeira ou são vários os amores marcantes na vida? Pena que a desconstrução do conceito de "alma gêmea" seja tão ineficaz e que a história recorra a clichês. Mas é louvável uma ficção "científica" retratar tão bem os dilemas dos apaixonados, sempre com um toque de humor sutil. Ficou curioso? Olha aí:





Doloroso
Contra Corrente - 2009


Miguel (Cristian Mercado) vive com Mariela (Tatiana Astengo), sua esposa grávida, em uma vila de pescadores no litoral peruano, onde são fortes os preceitos religiosos. Como os demais homens, trabalha arduamente para o sustento de Mariela e do futuro filho. É nesse contexto que chega o artista Santiago (Manolo Cardona), por quem Miguel se apaixona. Uma tragédia, então, muda o destino do pescador e o põe diante de uma escolha: assumir o caso, mesmo depois do "fim" (o que seria o fim?), ou viver conforme as regras de olhares alheios.

O longa é a estreia do diretor peruano Javier Fuentes-León e ganhou visibilidade no Festival de Sundance 2010. A vereda trilhada por Miguel e Santiago é penosa e envolta em muita sensibilidade. No acabar das contas, Miguel sempre termina se esbarrando em uma questão. Vale a pena ou não nadar contra a corrente em um revolto mar de tradição e machismo, que inunda tanto a comunidade em que vive quanto o próprio peito?

Contra Corrente em muito se assemelha a outros do gênero, como Brokeback Mountain (2005) e Pecado da Carne (2009). Mas o sangue latino corre entre os tecidos da cena e metamorfoseia o amor contado, as consequências representadas e mesmo a mensagem transmitida. Da morte, Miguel colhe a felicidade que tanto ocultou. Mas só a dor da revelação trará a paz ao espírito de todos, inclusive de quem assiste. Espia aí. Obs. 2: Não é a cara da depressão, gente!




Saudosista
Eterno Amor - 2004


Mathilde (Audrey Tautou) e Manech (Gaspard Ulliel) se apaixonam na infância e, quando crescem, decidem se casar. Infelizmente, Manech é chamado pelo exército francês para lutar na Primeira Guerra Mundial, da qual não volta. Mesmo desacreditada pelas autoridades e amigos, Mathilde inicia uma incessante procura, guiada pela saudade e pela certeza irracional de que o amado ainda vive.

Pois é, as semelhanças com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002) vão além da presença de Tautou e de grande parte do elenco em comum. Ambos têm protagonistas excêntricas e são obras do fantasioso diretor 
Jean-Pierre Jeunet. Mas as coincidências param por aí. Até porque Eterno Amor é a versão cinematografada do livro Um Domingo para Sempre (1991), de Sébastien Japrisot, que conta de maneira realista o romance.

Jeunet é fidelíssimo à obra literária, enxertando no filme quase todas as falas intactas. Claro que alguns fatos são alterados, mas sem sair do conceito original. Tautou traduz na tela a forte personalidade de Mathilde, que supera a deficiência física e o arrefecimento da esperança na corrida cega por reencontrar Manech. Cabe ao diretor e a sua estética encher o filme com uma luz nostálgica, que recorda os momentos mais felizes de M e M, mesmo 
em cenas de desalento. Emocione-se com o trailer. Obs. 3: Gente, só achei o trailer sem legendas, mas vale a pena ver.


  
Não correspondido
Amores Imaginários - 2010


Apesar de diferentes, Francis (Xavier Dolan) e Marie (Monia Chokri) nutrem uma forte amizade. Forte até ser surgir Nicolas (Niels Schneider), que se torna a paixão dos dois. Um campo de batalha se arma, e os (ex-) amigos se digladiam por um sentimento que, em suas imaginações, é retribuído por Nicolas. 

Falou em romance francês, pensa-se logo em triângulo amoroso e ménage à trois, certo (s
afadchênhos)? Mas o filme de Xavier Dolan (também diretor) dá mais uma alfinetada nos amantes de plantão do que inspira erotismo. Quem nunca se apaixonou sem ser correspondido? Ou quem nunca competiu com outra pessoa por um amor? Junte as duas situações e diga adeus à finesse. É o caso de Francis e Marie, que descem do salto e encarnam toda a rivalidade e o egoísmo que circundam o amor. 

O trabalho tem seus defeitos. A direção de Dolan é hipster demais, cheia de efeitos e talvez imatura. Mas ele sabe combinar bem ícones do pop e da arte para criar uma fotografia 
exuberante, que por si só já vale o filme. As cores vibram com intensidade. A trilha sonora é reverberada pelas poderosas músicas, como a dramática Bang Bang e a exótica Pass This On, que embala a cena mais marcante do longa. Nela, o diretor condensa em poucos minutos a visão idealizada (e particular) que se tem de um amante quando os olhos estão baços de amor. Se identificou? Então, curti aí embaixo.



Moderno
Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual - 2011

Martín (Javer Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) são dois jovens corroídos pelo frenesi da metrópole. Apesar de morarem próximos, nunca chegam a se conhecer na vida real, devido ao isolamento depressivo em que estão imersos. Somente nos chats virtuais é que se encontram, sendo a internet o único escape (ilusório) para a socialização. Mal sabem que o amor está logo ali, ao atravessar uma rua. 

Originado de um curta de 2005, o filme de Gustavo Taretto arrebatou os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Diretor no Festival de Gramado de 2011. O longa é uma emocionante parábola sobre as relações amorosas modernas, cultivadas em meio a uma cidade estéril, individualista e cibernética. É em uma urbe assim que habitam Martín e Mariana (e todos nós), consumidos pela solidão de um mundo inteiramente "conectado". 

A arquitetura da cidade é a grande inspiração do filme. Do mais cinza concreto, Taretto consegue extrair poesia e beleza. Medianeras são justamente as laterais vazias de prédios, suportes para propagandas. Quando os personagens decidem rasgar esse dorso petrificado, janelas são abertas e permitem que a luz do Sol revigore a vida. A janela física substitui a virtual e se torna um meio de comunicação direto para o possível romance. Afinal, após inúmeros desencontros (frustrantes!), Martín e Mariana ficam mais uma vez na iminência de se conhecerem. No fim, resta uma prova de esperança: sim, um amor ainda consegue florescer à sombra de edifícios esmagadores. Veja o trailer. Obs 4.: Quem adora Onde está Wally?, vai amar o filme, repleto de referências pop, como Star Wars e Astro Boy.