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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No cinema com o Horror – Volume I

Pode até não ser algo natural da nossa Terra da Luz, mas é incontestável que, no mês de outubro, paira no ar uma estranha névoa de Halloween. Acreditando ou não no sobrenatural, somos constantemente assombrados pelo calendário, que insiste em nos apontar a data final. No dia 31, quer seja no imaginário, quer seja na vida real, as bruxas estarão soltas a nos perseguir.

Para "comemorar" essa aura macabra de outubro, preparamos algumas dicas de filmes sobre um dos temas que mais desperta a curiosidade e o interesse do ser humano: o horror. Mas que tal deixarmos de lado as mutilações à la Jogos Mortais e conhecermos um lado mais psicológico do terror? Abaixo, um dos primeiros exemplares de filmes que arrepiam a espinha até hoje, sem fazer uso exagerado da violência. Aproveite.

Psicose - 1960

Obra prima do diretor Alfred Hitchcock. Expoente máximo do gênero suspense/terror. E ainda: um dos filmes mais icônicos do cinema. Prepare-se, esses são alguns dos comentários mais modestos que ouvirá a respeito do aclamado Psicose. Sem qualquer contra-argumento, realmente é um grande clássico, com toda sua perenidade e subversão. Mas, à margem de qualquer aura de endeusamento, uma coisa é certa: a cada minuto que passa desde a abertura, é possível sentir dentro de si uma bolha de agonia crescente, que explode em puro medo quando a célebre cena do chuveiro surge na tela.

À primeira vista, Psicose pode até desestimular parte dos espectadores que o veem com os olhos da contemporaneidade. Afinal, é uma película em p&b que foge do modelo dos filmões atuais, em que as cores púrpuras, a ação frenética e os sustos programados são pré-requisitos dominantes. Indo na direção contrária dessa pasteurização, Psicose é uma excruciante surpresa para os amantes do gênero. Mesmo passados 52 anos, não há como não se assustar com a desventura de Marion no emblemático motel de Norman Bates.

Na tela

O diretor Alfred Hicthcock, "Mestre do Terror"
Já de início, é prenunciado um clima impregnado de crime e temor. Um dia, a secretária Marion Crane (Janet Leigh) aproveita o fim de semana já próximo e rouba 40 mil dólares da imobiliária onde trabalha para financiar seu casamento. Durante a fuga, decide descansar na pousada de Norman Bates (Anthony Perkins), homem que vive no lugar apenas na companhia materna. Sentindo-se protegida, Marion nem desconfia que a morte ainda lhe visitará  no banho daquela noite. A partir daí, desenrola-se um mistério do tipo whodunit (“quem matou?”), caminhando para um final inimaginável. 

Deixando para trás o lado tiete, o longa é uma deliciosa experiência cinematográfica, repleto de ousadias. Se o público é previamente acostumado a acompanhar a saga da mocinha e torcer pela sua felicidade, fica embasbacado 
aos 40 minutos com sua brutal morte por uma faca ensandecida. Além disso, é obrigado a embarcar na completa transformação de foco da história, quando a dupla formada pelos Bates ganha papel central. Aos poucos, o espectador mergulha na conflituosa relação familiar de Norman com sua controladora mãe, enquanto a tensão no ar se solidifica cada vez mais

Anthony Perkins no papel de Norman Bates
Para além da magistral direção de Hitchcock, as atuações são um dos fortes que sustentam a grandiosidade do filme. Janet Leigh dá uma incrível vulnerabilidade e ingenuidade a uma secretária de caráter duvidoso. Na morte, atinge o ápice da emoção, transfigurando seu rosto molhado em uma carranca de fatal horror. 

A cargo de Perkins fica a missão de dar vida ao complexo personagem de Norman. Ao mesmo tempo em que transparece o ser frágil dominado pela parte materna, o ator incute no personagem algo de terrivelmente misterioso que instiga a plateia até o fim. 

Mas, inegavelmente, um dos maiores trunfos do sucesso horripilante da obra está na música do compositor Bernard Herrmann. Só com Hitchcock, o americano trabalhou em nove filmes, incluindo Um corpo que cai (1958) e Os pássaros (1963). Cidadão Kane (1941) e Taxi Driver (1976) foram algumas das outras obras para as quais compôs. Mesmo assim, foi com a trilha sonora de Psciose que conseguiu marcar à ferro incandescente o imaginário popular. Com violinos rasgantes, cruéis e agonizantes, Herrmann traduziu o desespero da morte e se fez inesquecível na mente daqueles que nem mesmo ouviram falar de seu trabalho. Confira no trailer abaixo:




Nos bastidores
Hicthcock e Perkins nos sets de gravação
Quem vê Psicose nos tempos de hoje mal sabe que se deriva de um romance de Robert Bloch, engrandecido pela adaptação do roteirista Josef Stefano. Conta-se que na época Hitchcock ficou fascinado pelo enredo. Assim que comprou a obra pela bagatela de 9.000 dólares, retirou de circulação todos os exemplares do livro, a fim de manter o segredo sobre o desfecho da história. 

Com um orçamento baixíssimo de 800.000 dólares e usando o elenco do programa que o diretor mantinha na TV, o filme arrecadou 40 milhões de dólares nas bilheterias. Mais econômico ainda, foi gravado em preto e branco em uma época em que o cinema colorido já existia há décadas. O motivo? Porque o Hitchcock achou que a película poderia ficar muito sangrenta se rodada a cores. 


No chuveiro 

Porém, se, por um lado, Hitch fugiu do choque pela violência, por outro, ele não economizou na ousadia em diversos cenas, principalmente na tomada do chuveiro. Pela primeira vez, foi exibido nas telonas um vaso sanitário, algo impensável em tempos passados de rígidos códigos morais. Além disso, se já no cartaz e ao longo do filme Janet Leigh aparecia apenas de roupas íntimas, na morte de Marion foi usada uma dublê nua para dar maior realismo ao fato. Realismo que Hitchcock conseguiu construir em apenas 30 segundos. 

Bastaram 36 tomadas alternadas freneticamente para dar a impressão de que se desenrolava aos nossos olhos um verdadeiro banho em sangue, sem que em nenhum momento fosse necessário a lâmina tocar de fato a pele da atriz. Sangue este que não passava de calda de chocolate, enquanto que o som das “facadas” se originava de punhaladas desferidas em melões. Tudo aparentemente verossímil,  graças ao incrível poder ilusório das mãos do Mestre do Terror.

Nas sequências


Como todo sucesso, Psicose foi explorado repetidamente em outras franquias: Psicose 2 (1983), Psicose 3 (1986) e Psicose 4 - A Revelação (1990), nenhum ao comando de Alfred Hitchcock (e sem o mesmo sucesso). Além disso, um polêmico remake foi feito em 1998 por Gus Van Sant, sem obter a força do primeiro.



Para novembro deste ano, está previsto a estreia de Hitchcock,filme baseado no livro Alfred Hitchcock and the Making of Psycho, de Stephen Rebello, em que é mostrado os bastidores da gravação de Psicose. Só pelo trailer, qualquer um já se apaixona pela atuação de Scarlett Johansson e Anthony Hopkins como Janet Leigh e Alfred Hitchcock. Caia também de amores assistindo ao trailer abaixo:




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